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às quinta-feira, novembro 27, 2008
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Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Patricia!

Parabéns pelas lindas jóias!

Abraços,
Elisabete Luz

1 de dezembro de 2008 às 15:00

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Patricia Fontenelle

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Não são só os que mais gostei, mas os que vou lembrando...

  • Memorial Do Convento ( José Saramago) ++++++++
  • Ensaio Sobre A Cegueira. ( Josè Saramago - é um dos que mais gosto dele, reflexão forçada da moral, limites e fragilidades. perfeito,)
  • O Evangelho Segundo Jesus Cristo ( José Saramago)+++++++++++++++++
  • Símbolo Perdido (Dan Brown) Horrível, cansativo, é tanto símbolo, tanta baboseira, que é o pior livro que li nos últimos tempos.
  • Sob O Sol Da Índia +++++
  • O Dom ( mais um indiano, muito bom)
  • Amor e Cheiro Isch e Mucsk(indiano, diferente, )
  • A Menina que Roubava Livros +++++
  • O Vermelho e o Negro ( Sthedal) li na infância e achei sem graça, nova leitura, nova pessoa ,muito bom
  • República dos Sonhos (Nélida Pinon) +++++
  • Canto Geral ( Pablo Neruda)
  • Sagarana (Guimarães Rosa)+++
  • Eu e Outras Poesia ( Augusto dos Anjos)++++
  • Histórias Extraordinárias ( Edgar Allan Poe ) +++
  • Fogo Morto (José Lins do Rego)++
  • Os Cem Melhores Contos Brasileiros Flavio Moreira)++++
  • Paula (Izabel Alende) ++++
  • Cem Anos De Solidão (Gabriel Garcia Marques)+++++
  • A Vida Como Ela é.( Nelson Rodrigues)++
  • A Menina Morta + - -
  • Emyli +++++
  • A Romana (Alberto Moravia) + - -
  • Em Nome da Princeza Morta ++
  • Miguilim (Guimarães Rosa) ++++
  • O Palácio dos Desejos (Nagib Mafuss) +++
  • O Tratado dos Viventes( Luiz Felipe de Alencastro)muito bom!+++++
  • Os Degraus do Paraíso ( Josué Montelo)++++
  • Viva O Povo Brasileiro( João Ubaldo Ribeiro)+++++
  • Os Tambores de São Luiz ( Josué Montelo)+++++
  • A Sombra e o Vento ( Miguel Luiz Safón)+++++
  • O Perfume(-Patrick Suskind)+++++

Gosto muito...

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Eu Luminoso Não Sou

José Saramago



Eu Luminoso não sou.Nem sei que haja

Um poço mais remoto, e habitado

De cegas criaturas, de histórias e assombros.

Se, no fundo poço, que é o mundo

Secreto e intratável das águas interiores,

Uma roda de céu ondulado se alarga.

Digamos que é o mar: como o rápido canto

Ou apenas o eco , desenha no vazio irrespirável

O movimento de asas. O musgo é o silêncio

E as cobras-d'água dobram rugas no céu,

Enquanto, devagar, as aves se recolhem

Science-fiction I

José Saramago



Talvez o nosso mundo se convexe

na matriz positiva doutra esfera



Talvez no interspaço que medeia

Se permutem secretas migrações.



Talvez a cotovia, quando sobe,

Outros ninhos procure ou outro sol



Talvez a cerca branca do meu sonho

Do côncavo rebanho se perdesse



Talvez do eco dum distante canto

Nascesse a poesia que fazemos



Talvez só o amor seja o que temos

Talvez a nossa coroa, o nosso manto.





Sensorial

Adélia Prado



Obturação, é da amarela que eu ponho.

Pimenta e cravo,

mastigo à boca nua e me regalo.

Amor, tem que falar meu bem,

me dar caixa de música de presente,

conhecer vários tons pra uma palavra só.

Espírito, se for de Deus, eu adoro,

se for de homem, eu testo

com meus seis instrumentos.

Fico gostando ou perdôo.

Procuro sol, porque sou bicho de corpo.

Sombra terei depois, a mais fria.

Orfandade

Adélia Prado



"Meu Deus,

me dê cinco anos.

Me dê umpé de fedegoso com formiga preta,

me dê um Natal e sua véspera,

o ressonar das pessoas no quartinho.

Me dê a negrinha Fia pra eu brincar,

me dê uma noite pra eu dormir com minha mãe

Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,

me dê a mão, me cura de ser grande.

Ó meu Deus, meu pai,

meu pai."





Explicação Sem Ninguém Pedir

Adélia Prado



Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica

mas atravessa a noite , a madrugada, o dia,

atravessou minha vida,

virou só sentimento.

Impressionista

Adélia Prado

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante
Por muito tempo moramos numa casa,
constantemente amanhecendo.

O Dia da Ira

Adélia Prado



As coisas tristíssimas,

o rolomag, o teste de Cooper,

a mole carne tremente entre as coxas.

vão desaparecer quando soar a trombeta.

Levataremos como deuses,

com a beleza das coisas que nunca pecaram

como árvores, como pedras,

exatos e dignos de amor.

Quando o anjo passar,

o furacão ardente do seu vôo.

vai secar as feridas,

as secreções desviadas dos seus vasos

e as lágrimas.

As cidades restarão sileenciosas, sem um veículo

apenas os pés de seus habitantes

reunidos na praça, à espera de seus nomes.



Pálida

Cassandra Rios



Pálida - Branca como lírios

como a túnica alvinitente

dos condenados

minha alma veste a alva dos suplícios

para enfrentar a inexistência

do teu amor!

A ausência de cor, o vazio

e o silêncio

a Tristeza em ato de contrição

é a alegria que emudece,

diante da minha sensibilidade

embrutecendo a vida de que temo

enfrentar

ao duvidar se terei d ti

o que espero!



Branco:

É a falta do teu amor por mim

É o nada em ti.

Dolores

Adélia Prado



Hoje me deu tristeza,

sofri três tipos de medo

acrescido do fato irreversível:

Não sou mais jovem.

Discuti política, feminismo,

a pertinência de reforma penal,

mas no fim dos assuntos,

tirava do bolso meu caquinho de espelho

e enchia os olhos de lágrimas:

não sou mais jovem

As ciências não me deram socorro,

não tenho por definitivo consolo

o respeito dos moços.

Fui no Livro Sagrado

buscar perdão pra minha carne soberba

e lá estava escrito:

"Foi pela fé que também Sara, apesar da idade avançada,

se tornou capaz de ter uma descendência..."

Se alguém me fixasse, insisti ainda,

num quadro numa poesia...

e se fossem objetos de beleza os meus músculos frouxos...

Mas não quero .Exijo a sorte comum das mulheres nos tanques

das que jamais verão seu nome impresso e no entanto

sustentam os pilares do mundo, porque mesmo viúvas dignas

não recusam casamento, antes acham sexo agradável,

condição para a normal alegria de amarrar uma tira no cabelo

e varrer a casa de manhã.



Uma tal esperança imploro a Deus.

Retrato do poeta quando jovem

José Saramago

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado.
No silêncio sa lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado,
Como o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto;
Um ansiar de se inextiguida.

Há um retrato de água e de quebranto.
Que do fundo rompeu desta memória .
E de tudo quanto é frio abre no canto
Que conta do retrato ou velha história.

Química

José Saramago

Sublimemos, amor.Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam, instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.

Não me Peçam Razões

José Saramago

Não me peçam razões, que não as tenho;
Que darei quantas queiram bem sabemos.
Que razões são palavras, todas nascem.
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda.
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei.
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é demais é que amanhece.
A cor de primavera que há de vir




Poema à boca fechada

José Saramago

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Nada direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto ser
Nestes retiro em que não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais mortos, medos,
Túrgidos, fritos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cla quando me calei.
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Na ilha por vezes habitada

José Saramago

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entre e nós, uma grande serenidade e dizem-se as palavras que a significam.
Levatamos em punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno,a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e sorriso de quem se reconhece e vigiou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até os ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


Espaço Curvo e Infinito

José Saramago

Oculta consciência de não ser
Ou de ser num estado que me transcede
Numa rede de presenças
E ausências
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

A Serenata

Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natal como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
-só a mulher entre as coisas envelhece
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?



#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&&#&#&#&#&#&#&#&

Seiscentos e Sessenta e seis

Mário Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos
pra fazer em casa.
Quando se vê, já é sexta feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais pra ser reprovado...
E se me dessem um dia uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho
a casca dourada e inútil das horas.

Com pesos dúvidos me sujeito a balança até hoje recusada
de saber o que mais vale:
se julgar, assistir ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou"
José Saramago

Química

Sublimemos, amor.Assim as flores
No jardim não morreremos se o perfume
No cristal da essência se defende
Passemos nós as provas os ardores:
Não caldeiam instintos sem o leme
Nem o secreto aroma rescende.
José Saramago

Madrugada

Márcia Fasciotti

è claro!! Sempre estava afim!
Uma noitada, música,
burburinho de vozes,
matizadas em vários tons...
Mais uma dose!!!
Estalar de copos gargalhadas...
Misturas de sons!!!
É a boemia insone
exibindo falsa alegria.
procurando encher de amores
a madrugada vazia...
Já gostei...
...já fui assim!!
Hoje a insônia desbafo no papel...
Encontro marcado comigo!!!
Que ironia!!
Sou no momento ,minha melhor
e mais fiel companhia...

No Dia...

Gaspara Stampa
Tradução de Sérgio Duarte

No dia em que no ventre concebido.
Foi meu senhor, viu-se dos céus eleito.
Para que fosse entre os mortais perfeito.
E de virtudes mil ficasse ungido.

Saturno junto aos sábios fê-lo aceito.
E jovem, dos mais nobres preferido
Marte na liça o fez mais aguerrido
E Febode elegância encheu-lhe o peito.

Beleza deu-lhe Vênus, e eloquente
O fez Mercúrio; mas a Lua, ao vê-lo,
Fieza ao coração deu de presente.

Cada qual desses dons mais forte apelo.
Faz a chama que em mim crepita ardente;
Menos aquele só, que o fez de gelo.


O Carnaval de Bandeira

Vulgívaga



Não posso crer que se conceba

Do amor senão o gozo físico!

O meu amante morreu bêbado,

E o meu marido morreu tísico!



Não sei entre que astutos dedos

Deixei a rosa da inocência

Antes da minha pubescência

Sabia todos os segredos



Fui de um...Fui deoutro...

Este era médico...

Um poeta...Outro nem sei mais!

Tive em meu leito enciclopédico

Todas as artes liberais.



Aos velhos dou o meu engulho.

Aos férvidos, o que so esfrie.

Aos artistas, a coquetterie

Que inspira...

E aos tímidos o orgulho.



Estes, caço-os e depeno-os:

A canga fez-se para o boi...

Meu claro ventre nunca foi

De sonhadores e de ingênuos!



E todavia se o primeiro

Que encontro, fere toda a lira,

Amanso, tudo se me tira.

Dou tudo.E mesmo dou dinheiro...



Se bate, então como estremeço!

Oh, a volúpia da pancada!

Dar-me entre lágrimas quebrada,

Do seu colérico arremerso.



E o cio atroz se não me leva

A valhacoutos de canalhas,

É porque temo a treva

O frio fino das navalhas...



Não posso crer que se conceba

Do amor senão o gozo físico.

O meu amante morreu bêbado

E o meu marido morreu tísico.



Frêmito

Florbela Spanca


Frêmito do meu corpo
Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar,a baunilha e mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por todoa a parte,
Sede de beijos, amargos de fel,
Estonteante fome, ápera cruel,
Que nada existe que a mitigue e forte!
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
junto da minha, uma lagoa calma,
a dizer-me, a cantar que não me amas...
E o meu coração que tu não sentes,
vai baixando ao acaso das corrente,
esquife negro sobre um mar de chamas.

**********

Mário Quintana

Quando eu for um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso.

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
( Desde já tão longo andar! )

E talvez de meu repouso...



Minhas Flores e Eu

Minhas Flores e Eu
Patricia Fontenelle

Folhas De Rosa

Florbela Espanca

Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo...

E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente.

Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade imensa e infinita
Que triste, me deslumbra e m'embriaga

O espelho de prata cinzelada
A doce oferta que eu amava tanto,
Que refletia outrora tantos risos,
E agora reflete apenas pranto,

E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e de estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...

Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...

O Vestido

Adélia Prado

" No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
`a ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quiz com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda."


&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*&*

Amiga

Florbela Espanca

Deixa-me ser a tua amiga,Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por me dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guarda assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Atração e Repulsa

Adelino Fontoura
(1854 - 1884)

Eu nada mais sonhava nem queria
que de ti não viesse, ou não falasse;
e, como a ti te amei, que alguém te amasse
coisa incrível até me parecia.

Uma estrela mais lúcida eu não via,
que nesta vida, os passos me guiasse,
e tinha fé, cuidando que encontrasse,
após tanta amargura, uma alegria.

Mas tão cedo estinguiste este risonho,
este encantado e deleitoso engano,
que o bem, que achas, supus,já não suponho.

Vejo, enfim, que és um peito desumano;
se fui, té junto a ti, de sonho em sonho
Voltei, de desengano em desengano.



Para O Meu Coração

Pablo Neruda

Para meu coração basta teu peito.
para tua liberdade bastam minhas asas
Desde minha boca chegará até o céu.
O que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento.
Como os pinheiros e como as hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e entristeces prontamente, como uma viagem.

Acolheredora como um velho caminho
Te povoa ecos e vozes nostálgicas
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

Verso De Orgulho

Flobela Espanca

O mundo quer-me mal porque nínguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém

Porque o meu Reino fica para além
Porque trago no olhar os vastos céus
E os olhos e claróes são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo? O que é o mundo , ó meu Amor?
_ O jardim dos meus versos todo em flor...
A seara dos teus beijos, pão bendito...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
_São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

Silêncio

Florbela Espanca

No faldário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já vivo em mim! Ando a vaguear
E roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!...Abre! Sou eu!...

Os Versos Que Te Fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim te oferecer

Tem dolência de veludos caros
São como rendas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Vaidade

Florbela Spanca

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade.


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita.
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Meu Deus, Me Dê A Coragem

Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua Presença.
Me dê coragem de considerar esse vazio
Como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu posso falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha coragem de Te amar
Sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Toma-me

Hilda Hilst

Toma-me
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.
Toma-me Agora, Antes
Antes que a carnadura desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, repira meu sopro deglute.
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo.Da fome
Do de dentro.Corpo se conhecendo, lento,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós esse tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia.Sobre nossa vida
A vida se derramando.Cíclica.Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas.E eu delinquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga.
De púrpura.De prata.De delicadeza.

A Mulher e o Reino

Ariano Suassuna

Oh! Romã do pomar, relva e esmeralda
Olhos de ouro e azul, minha alazã
Ária em forma de sol, fruto de prata
Meu chão, meu anel, cor do amanhã

Oh! meu sangue, meu sono e dor coragem
Meu candeeiro aceso da miragem
Meu mito e meu poder, minha mulher
Dizem que tudo passa e o tempo duro
tudo esfarela
O sangue há de morrer

Mas quando a luz me diz que esse ouro puro se acaba por finar
e corromper
Meu sangue ferve contra a vã razão
E há de pular o amor na escuridão.


Queda

Camilo Peçanha

O meu coração desce
Um ladrão apagado!

Melhor fora que ardesse.
Nas trevas incendiado.

Na bruma fastidienta...
Como a cova de um caixão

Porque antes não rebenta
Rubro, numa explosão?

Que apego ainda o sustem?
Atono, miserando.

Que o esmagasse o trem
De um comboio arquejando.

O iname, vil despojo.
Ó alma egoísta e fraca

Trouxesse-o mar de rojo.
Levasse-o na ressaca

Morro Do Que Há No Mundo


Cecília Meireles

Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada

Azul Sobre Amarelo, Maravilha e Roxo

Adélia Prado

Desejo, como quem sente fome ou sede,
Um caminho de areia margeado de boninas,
onde só cabem a bicicleta e seu dono.
Desejo, como uma funda saudade
de homem ficado órfão pequenino,
um regaço e o acalanto, a amorosa tenaz de uns dedos
para um forte carinho em minha nunca.
Brotam matinhos depois da chuva,
brotam os desejos do corpo.
Na alma, o querer de um mundo tão pequeno,
como o que tem nas mãos o Menino Jesus de Praga.









Para o Zé

Adélia Prado

Eu te amo, homem hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe os
lábios carnudos como de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer,
te amo.Teço as curvas , as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florzinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate.Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba.Esmero.Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio dia, para que eu não
ande vagueando atrás de rebanhos de teus companheiros."
Aprendo.Te aprendo, homem.O que a memória ama
fica eterno.Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor.Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarniçao de cozinha, você me guarnece,
Tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé.Meu coração vai desdobrando.
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho
o que não queria dizer amo também, o piolho.Assim,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

Reminiscências

Gilka Machado

Na noite fria
Tua voz quente
expunha anseios tais,
Tinha o tal despudor,
Vinha tão nua,
que minha boca sentiu desejos
de vesti-la de beijos...

Na noite fria tua voz quente
errava, louca de destemor
pelos gelados e ermos espaços...
E tive pena de tua fala...
E abri minha alma para abriga-la
Na noite fria
tua voz quante
pediu tanto,
chorava tanto...
Que minha vida te dei,
com a mágoa
com que se lança
velho tesouro às mãos travessas
de uma criança.

Roxo

Adélia Prado

"Roxo aperta
Roxo é travoso e estreito..."
Roxo é acordis vexatório,
uma doidura pra amanhecer
A paixão de Jesus á roxa e branca
Pertinho da alegria.
Roxo é bonito e eu gosto.
Gosto dele o amarelo
O céu rouxeia de manhã e de tarde,
uma rosa vermelha envelhecendo
Cavalgo caçando o roxo.
lembrança triste bonina
Campeio amor pra roxeamar paixonada
o roxo por gosto e sina.




Espelho Mágico

Mário Quintana

O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! quanta vez a vida nos revela
Que a saudade da amada criatura
É bem melhor que a presença dela...




O Velho do Espelho

Mário Quintana

Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai- que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro- interroga:
"O que fizeste de mim?! "
Eu Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre.
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia- a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...

Antítese

Cintila a festa nas salas!
Das serpentinas de prata
Jorram luzes em cascata
Sobre sedas e rubins
Soa a orquestra...Como silfos
Na sala os pares perpassam
Dos tapetes nos coxins.

Entanto a névoa da noite
no átrio, na vasta rua,
Como um sudário flutua
Nos ombros da solidão.
E as ventanias errantes,
Pelos ermos perpassando,
Vão se ocultar soluçando
Nos antros da escuridão.

Tudo é deserto ...somente
A praça em meio se agita
Dúbia forma que palpita,
Se estorce em rouco estetor.

_Espécie de cão sem dono
Desprezado na agonia,
Larva da noite sombria,
Mescla de trevas e horror.

É ele o escravo maldito,
O velho desamparado,
Bem como o cedro lascado,
Bem como o cedro no chão.
Tem por leito de agonias
As lájeas do pavimento,
E como único lamento
Passa rugindo o tufão.

Chorai, orvalhos da noite,
Soluçai, ventos errantes.
Astros das noites brilhantes
Sede os cúrios do infeliz!
Que o cadáver insepulto,
Nas praças abandonado,
É um verbo de luz, um brado
Que a liberdade de prediz.

Soneto

Gregório de Mattos

Carregando de mim ando no mundo
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.

Não e fácil viver entre os isanos
Era, quem pressumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c'os, que só, sisudo.

Debaixo Do Tamarino

Augusto do Anjos

No tempo de meu Pai, sob estes galhos
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira,
De inexorabilíssimos trabalhos.

Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira,
E a paleotologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida e a voz dos cronológicos
Gritar nos noticiários que eu morri.

Voltando à pátria da homogeneidade
abraçada da própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui.

Retrato Próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura:
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades
( Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades.

Eis Bocage, em quem luz algum talento,
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrente.

O Mundo Do Sertão

Diante de mim, as malhas amarelas
do mundo, Onça castanha e destemida
No campo do Azul, o Mal se desmantela.

Mas a Prata sem sol destas moedas
pertuba a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a Marca negra esquerda inesquecida
corta a Prata das flores e fivelas.

E enquanto o fogo clama a Pedra rija,
que até o fim, serei desnorteado,
que até no pardo o cego desepera,

o cavalo castanho, na cornija,
tenha alçar-se nas asas, ao sagrado,
ladram do entre as Esfinges e a Pantera.

Cartão De Natal

João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiamo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
e sim comer o pão.



Pedido

Gonçalves Dias

Ontem no baile
Não me atendias!
Não me atendias,
Quando eu falava.

De mim bem longe
Teu pensamento!!
Teu pensamento,
Bem longe errava.

Eu vi teus olhos
sobre outros olhos!
Sobre outros olhos,
Que eu odiava.

Tu lhe sorriste,
Com tal sorriso!
Com tal sorriso
Que apunhalava

Tu lhe falaste
Com voz tão doce!
Com voz tão doce,
Que me matava.

Oh! não lhes fales,
Não lhes sorrias,
Se então só qu'rias-
Exp'rimentar-me

Oh! não lhe fales,
Não lhe sorrias,
Não lhe sorrias,
Que era matar-me.









Seus Olhos

Almeida Garret

Seus olhos- se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou-
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E fogo que a ateou
Vivaz, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Anjo Bento

Gregório de Matos

Destes que campam no mundo
Sem ter engenho profundo
E, entre garbos dos amigos,
Os vemos em papafigos
Sem tempestades, nem vento:

Anjo Bento!

De quem com letras secretas.
Tudo o que alcança é por tretas,

Baculejando sem pejo,
Por matar o seu desejo,
Desde a manhã té à tarde:

Deus me guarde!

Do que passeia farfante,
Muito prezado de amante,
Por fora luvas, galões
Ínsignias, armas, bastões,
Por dentro, pão bolorento:

Anjo Bento!

Destes beatos fingidos
Cabisbaixos, encolhidos
Por dentro fatais maganos,
Sendo nas caras uns Janos:
Que fazem vício alarde:

Deus me guarde!

Que vejamos teso andar
Quem mal sabe engatinhar,
Muito inteiro e presumido,
Ficando o outro abatido
Com maior merecimento:

Anjo Bento!

Destes avaros mofinos
Que põem na mesa pepinos,
De toda a iguaria isenta,
Com seu limão e pimenta,
Porque diz que o queima e arde:

Deus me guarde!

Sem Amor

Madre Tereza de Calcutá.

A inteligência, sem amor, te faz perverso.

A justiça, sem amor, te faz implacável.

A diplomacia, sem amor, te faz hipócrita.

O êxito, sem amor, te faz arrogante.

A riqueza, sem amor, te faz avaro.

A docilidade, sem amor, te faz servil.

A pobreza, sem amor, te faz orgulhoso.

A beleza, sem amor, te faz ridículo.

A autoridade, sem amor, te faz tirano.

O trabalho, sem amor, te faz escravo.

A simplicidade, sem amor, te deprecia.

A oração, sem amor, te escraviza.

A política, sem amor, te deixa egoísta.

A fé, sem amor, te deixa fanático,

A vida sem amor... não tem sentido.

Assim

Cassimiro de Abreu

Viste o lírio da campina?
Lá s'inclina
E murcho no hastil pendeu!
_Viste o lírio da campina?
pois divina,
Como o lírio assim sou eu!

Nunca ouviste a voz da flauta,
A dor da nauta
suspirando no alto mar?
_Nunca ouviste a voz da flauta?
Como a nauta
É tão triste o meu cantar!

Não viste a rola sem ninho
No caminho
Gemendo, se a noitr vem?
_Não viste a rola sem ninho?
Pois anjinho,
Assim eu gemo também!

Não viste a barca perdida
sacudida
Nas asas dalgum tufão?
_Não vistes a barca fendida?
Pois querida
Assim vai meu coração!

1858

Folha Negra

Cassimiro de Abreu


Sinhá,
Um outro mancebo
Alegre, poeta e crente,
Soltara um canto, fervente
De amor talvez! - de alegria,
E aqui nas folhas do livro
Deixara - amor e poesia.

Mas eu que não tenho risos
Nem alegrias tão pouco,
Nem sinto esse fogo louco
Que a mocidade consome,
Nas brancas folhas do livro
Só posso deixar meu nome!

É triste como um gemido
É vago como um lamento;
Queixume que solta o vento
Nas pedras duma ruma
Na hora em que o sol se apaga
E quando o lírio s' inclina...

Grito de angústia do pobre
Que sobre as águas se afoga,
Cadáver que bóia e vaga
Longe da praia, querida,
Grito de quem n' agonia,
Já morto- se apega à vida!

Vozes de flauta longínqua
Que as nossas mágoas aviva,
Soluço de patativa,
Queixume do mar que rola,
Cantiga em noite de lua
Cantada ao som da viola ! ...

Saudades do pegureiro
Que chora o seu lar amado,
Calado e só recostado
Na pedra dalgum caminho...
Canção de santa doçura
Da mãe que embala o filhinho!...

Mau nome!... É simples e pobre
Mas é sombrio e traz dores
Grinalda de murchas flores
Que o sol queima e não consome...
Sinhá- dad flores do livro.
É bom tirar o meu nome.

1858.

Dorme enquanto eu velo...deixa-me sonhar.

Fernando Pessoa

Dorme enquanto eu velo...
Deixa me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero- te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.


Tudo o que faço ou medito, fica sempre na metade.

Fernando Pessoa

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade
Querendo, quero o infinito
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica,
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúdica e rica,
E eu sou um mar de sargaço...

Um mar onde boiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontade ou pensamentos!
Não o sei e sei o bem.


Entre o sono e o sonho

Fernando Pessoa

Entre o sono e o sonho
Entre mim e o que em mim
É o que eu me suponho.
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou
Passa, se eu me medito,
Se despertou passou.

É quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre.
Esse rio sem fim.

1933

Se

Rudyard Kipling

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se é capaz de esperar sem te desesperares,
ou enganado, não mentir ao mentiroso
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretencioso.

Se és capaz de pensar- sem que isso só te atires
de sonhar- sem fazer dos sonhos teus senhores
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesm forma a esses dois impostores.


Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos,
e dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exauto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
e, entre Reis, não perder a naturalidade.,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e- o que ainda é muito mais- és um Homem, meu filho!


Londres

Willian Blake

Em cada rua escriturada em que ando,
Onde o Tamisa escriturado passa,
Eu nos rostos que encontro vou notando
Os sinais da doença e da desgraça.

Ouço nos gritos que os adultos dão,
E nos gritos de medo do inocente,
Em cada voz, em cada interdição,
As algemas forjadas pela mente.

Se o limpa-chaminés acaso grita,
Assusta a Igreja escura pelos anos;
Se o soldado suspira de desdita,
O sangue mancha dos muros palacianos.

Mas o que mais à meia noite é ouvido
É a rameira a lançar praga fatal
Que estanca o pranto do recém-nascido
E espreita a mortalha conjugal.

Silêncio

Edgar Alan Poe

Há qualidades incorpóreas, da existência
dupla, nas quais segunda vida se produz,
como a entidade dual da matéria e da luz,
De que o sólido e a sombra espelham a evidência.

Há pois, duplo dilêncio, o do mar e o da praia
do corpo e da alma; um, mora em deserta região
que erva recente cubra e onde , solene, o atraia
lastimoso saber, onde a recordação.

O dispa de terror; seu nome é " nunca mais ";
E o silêncio corpóreo.A esse , não temais !
Nenhum poder do mal ele tem.Mas, se uma hora

Um destino precoce (oh, destinos fatais)
Vós levar as regiões soturnas, que apavora
sua sombra, elfo sem nome, ali onde humana palma
Jamais pisou, a Deus recomendai vossa alma !














Espírito Imortal

Cruz e Souza

Espírito imortal que me fecundas
Com a chama dos viris entusiasmos,
Que transformas em gládios os sarcasmos
Para punir as multidões profundas!

Ó alma que transbordas, que inundas
De brilhos, de ecos, de emoções, de pamos
E fazes acordar de astros marasmos
Minha'lma, em tédios por charnecas fundas.

Força genial e sacrossanta e augusta,
Divino Alerta para o Esquecimento,
Voz companheira, carinhosa e justa.

Tens minha Mão, num doce movimento,
Sobre essa Mão angélica e robusta,
Espírito imortal do Sentimento!


Arte Poética

Paul Verlaine

Antes de qualquer coisa a música
e, para isso, prefere o Ímpar
mais vago e mais solúvel no ar,
sem nada que pese ou que pouse.
É preciso também que não vás nunca
escolher tuas palavra em anbiguidade:
nada mais caro que a canção cinzenta
onde o Indeciso se junta ao Preciso.
São belos olhos atrás dos véus,
é o grande dia trêmulo de meio-dia,
é através do céu morno de outono,
O azul desordenado das claras estrelas!
Porque nós ainda queremos o Matiz,
nada de cor, nada a não ser o matiz!
Oh! O matiz único que liga
o sonho ao sonho e a flauta à trompa.
Foge para longeda Piada assassina,
do Espírito cruel do riso impuro,
que fazem chorar os olhos do Azul
e todo esse alho de baixa cozinha!
Toma a eloquencia e torce-lhe o pescoço!
Tu farás bem, já que começaste,
em tornar a rima um pouco razoável.
Se não a vigiamos, até onde ela irá?
Oh! Quem dirá os malefícios da Rima?
Que criança surda ou que negro louco
nos forjou esta jóia barata
que soa oca e falsa sob a lima?
Ainda e sempre, música!
Que teu verso seja um bom acontecimento
esparço no vento crispado da manhã
que vai florindo a hortelã e o tino...
E tudo o mais é só literatura.


Das pedras

Cora Coralina

Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi;
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi
Uma estrada,
um leito,
uma casa
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu minha poesia
Minha vida...
Quebrando pedras e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos


Análise

Fernando Pessoa

Tão abstrata é a idéia so teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e desta,
Teu corpo do meu ver tão longememte,
Ea idéia do teu ser fica tão rente.
Ao meu pensar olhar-te, e no saber-me
Sabendo que tu és, que , só por ter-me
Cosciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te minto.
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo.
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.


A eleita

Edmond Haraucourt

Desejei teu amor tão voraz e sem pejo,
insaciável de carne,a sorver sangue em festa,
selvagem, sem exalar um cheiro de floresta
que fremisse ao prazer e ao delírio de um beijo.

Então, leve e felino, este corpo que almejo.
surge, espargindo o odor que me excita e requesta,
ondulante e sensual.Todo o meu ser se apresta.
para entregar-se ao teu na glória do desejo.

E passaste por mim sem me ver e te amei,
eras a prometida e jamais te alcansei,
seguiste teu destino ao calor de outros braços

Um duplo anseio pôs meus passos dobre os teus,
minha vida foi tua e teus sonhos os meus!
mas eu te esquecerei e apagarei teus passos.


(1856-1941)

...

Antônio Ferreira

Os olhos donde Amor suas flechas tira
contra mim, cuja luz m'espanta, e cega,
ó olhos onde Amor s'esconde, e prega
as almas, e em pregando-as, se retira!

Os olhos, onde Amor amor inspira,
e amor promete a todos, e amor nega,
ó olhos donde Amor também s'emprega
por quem tão bem se chora, e se suspira!

Os olhos, cujo fogo a neve fria
acende, e queima; ó olhos poderosos
de dar à noite luz, e vida à morte!

Olhos por quem mais claro nasce o dia,
porquem são os meus olhos tão discretos,
que de chorar por vós lhes coube em sorte!


Que importa...

Florbela Spanca

Eu era desdenhosa, aindiferente,
Nunca sentira em mim o coração
Bater em violência de paixão,
Como bate no peito à outra gente.

Agora,olhas-me tu altivamente,
Sem sombra de desejo ou de emoção,
Enquanto as asas loiras da ilusão.
Abrem dentro de mim ao sol nascente.

Minha'lma, a pedra, transformou-se em fonte;
Como nascida em carinhoso monte,
Toda ela é riso e é frescura e graça!

Nela refresca a boca um só instante...
Que importa?...Se o cansado viadante
Bebeem todas as fontes...quando passa?...




Minha Desgraça

Álvares de Azevedo

Minha desgraça não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei...O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol ( quem me dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó candida dozela,
O que faz que o meu peito blasfema,
É ter para escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.



Terça Rima

Álvares de Azevedo

É belo dentre acima ver ardendo
Nas mãos do fumador um bom cigarro,
Sentir o fumo em névoas recedendo,
Do cachimbo alemão no louro barro
Ver a chama vermelha estremecendo
E até...perdoem...respirar-lhe o sarro!
Porém o que há mais doce, nesta vida,
O que das mágoas desvanece o luto
E dá som a uma alma empobrecida,
Palavra d'honra, és tu, ó meu charuto.


...

Emily Dickison

Para fazer uma campina
basta um só trevo e uma abelha.
Trevo, abelha e fantasia
Ou apenas fantasia
Faltando a abelha.


Aflição de ser eu e não ser outra


Hisda Hilst

"Aflição de ser eu e não ser outra
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel
E a um só tempo múltipla e imóvel.

Não saber se ausenta ou se te espera.
Aflição de amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer a terra "


O Círculo

Ana Hartherly

O círculo é a forma eleita
É ovo, é zero
É ciclo, é ciência.
Nele se inclui todo mistério
E toda a sapiência.
É o que está feito.
Perfeito e determinado.
É o que principia.
No que esta acabado.
A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.
A senda mais perigosa.
Em nós se consumando,
Passando a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.


O Poeta Ficou Cansado

Adélia Prado

Pois não quero mais ser Teu arauto.
Já que todos tem voz,
por que só eu devo tomar navios
de rota que não escolhi?
Por que não gritas, Tu mesmo,
a miraculosa trama dos teares,
já que Tua voz reboa
nos quatro cantos do mundo?
Tudo progrediu na Terra
e insistes em caixeiros-viajantes.
de porta em porta,a cavalo!
(...)
Ó Deus, me deixa trabalhar na cozinha(...)


Tempo

Adélia Prado

A mim que desde a infância tenho vivido,
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo,
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que eu tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.


Talvez

Pablo Neruda

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros, não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
nem que sejas, enfim,
Sem que viesses brusca, incitante
Conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo de vento,

E desde então, sou porque tu és.
E desde então és
sou e somos...
E por amor serei, serás...seremos...


Deus do Mal

Cruz e Souza

Espírito do Mal, ó deus perverso.
Que tantas almas dúbias acalentas,
Veneno tentador na luz disperso
Que a própria luz e a própria sombra tentas.

Símbolo atroz das culpas do Universo,
Espelho fiel das convulsões violentas
Do gasto coração no lodo imerso
Das tormentas vulcânicas, sangrentas.

Toda a tua sinistra trajetória
Tem um brilho de lágrimas ilusórias,
As melodias mórbidas do Inferno.

És Mal, mas sendo Mal és soluçante,
Sem a graça divina e consolante,
Réprobo estranho do perdão eterno.


Poema

Maria Tereza Horta

Como é possível perder-te
Sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago.
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda



Loucura

Florbela Spanca

Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes.
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!...

Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se ps
diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!...

Pesadelos de insônia, ébrios de anseios!
Loucura a esboçar-se, a enegrecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!

Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a riri dentro da minha!


Por que nome chamaremos

Cecília Meireles

Por que nome chameremos
quando nos sentirmos pálidos,
sobre os abismos supremos?

De que rosto, olhar, instante,
veremos brilhar as âncoras
para as mãos agonizantes?

Que salvação vai ser essa,
com tão fortes asas súbitas,
na definitiva pressa?

Ó grande urgência do aflito!
Ecos de misericórdia
procuram lágrimas e grito,

-andam nas ruas do mundo,
pondo sedas de silêncio
em lábios de morimbundo.


Consolo Amargo

Cruz e Souza

Mortos e mortos, tudo vai passando,
Tudo pelos abismos se sumindo...
Enquanto sobre a Terra ficam rindo
Uns e já outros, pálidos, chorando...

Todos vão trêmulos finalizando,
Para os gelados túmulos partindo,
Descendo ao tremendal eterno, infinito,
Mortos e mortos , num sinistro bando.

Tudo passa espectral e doloroso,
Pulverulentamente nebuloso
Como num sonho, num fatal letargo...

Mas, de quem chora os mortos , entretanto,
O Esquecimento vem e enxuga o pranto,
E é esse apenas o consolo amargo!



Crê !

Cruz e Souza

Vê como a Dor te transcendentaliza!
Mas no fundo da Dor crê nobremente.
Transfigura o teu ser na força crente
Que tudo torna belo e diviniza!

Que seja a Crença uma celeste brisa
Inflamando as velas dos batéis do Oriente.
Do teu Sonho supremo, onipotente,
Que nos astros do céu se cristaliza.

Tua alma e coração fiquem mais graves,
Iluminados por caminhso suaves,
Na doçura imortal sorrindo e crendo!...

Oh! Crê! Toa a alma humana necessita
De uma esfera de cânticos, bendita,
Para andar crendo e para andar gemendo!





Quando Será?!

Cruz e Souza

Quando será que tantas almas duras
Em tudo,já libertas, já lavadas
nas águas imortais, iluminadas
Do sol do amor, hão de ficar bem puras?

Quando será que as límpidas frescuras
Dos claros rios de ondas estreladas
Dos céus do bem, hão de deixar clareadas
Almas vis, almas vãs, almas escuras ?

Quando será que toda a vasta Esfera,
Toda esta constelada e azul Quimera,
Todo este firmamento estranho e mudo,

Tudo que nos abraça e nos esmaga,
quando será que uma resposta vaga,
Mas temida, hão de dar de tudo, tudo?!





Moça na Cama

Adélia Prado

Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas,uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo.
posso dormir sossegada, mamãe vem me cobrir,
tomo a benção e fugi atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom.
Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde:
sim, mamãe, já vou:
passear na praça sem ningúem me ralhar.
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas tem os seus pátios
os muros tem os seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
Eu quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo.
quero minha cama de catre.
o santo anjo do Senhor
meu zeloso e guardador
Mas descansa, que ele é eunuco minha mãe.


Cabelo

Raquel Naveira

Estou triste, Cortei o cabelo.
Não sou mais adolescente
De tranças
E olhos lânguidos.
Não sou mais moça
Balançando a crina,
Como égua musculosa
Na colina.
Não sou mais princesa,
Usando tiaras,

Arrastando a coma
Como se tivesse na cabeça
a cauda de um cometa
Adeus, cabelame!
Derrame seiva sobre meus olhos,
Véu matinal
Com que penetra câmaras ardentes
Por que cortei o cabelo?
Porque não o mantive longo,
Mesmo branco e seco.
Preso na nuca
Por marfim e pente?


Soneto

Junqueira Freire

Arda de raiva contra mim intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, péfida inimiga

Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só o mundo miserável.
Alimente por mim ódio intratável.
O coração da terra que me abriga.

Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.

Durmo feliz sobre o suave riso.
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
Eos mais que os poetas são, desprezo e piso.


(1832-1855)

O amor

Vitor Hugo

Pois que a beber me deste em taça transbordante,
e a fronte no teu colo eu tenho reclinado,
e resfriei da tu'alma o hábito inebriante,
-Misterios perfume à sombra derramado;

Visto que te escutei tanto segredo, tanto!
Que vem do coração, dos íntimos refolhos,
e tine o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,
-A boca em inha boca e os olhos nos meus olhos;

pois que um raio senti do teu astro, querida,
dissipar-me da fonte densas brumas frias,
desde que vi cair na onda da minha vida
a pétala da rosa arrancada aos teus dias...

Possa agora dizer ao tempo em seus rigores:
_Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,
levando na torrente as vossas murchas flores;
ninguém há de colher a flor que eu tenho n'alma!

Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito,
a taça derramar em que me dessedento:
Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito;
e em mim, há mais amor que em vós esquecimento!

O Retrato Fiel

Gilka Machado

Não creias nos meus retratos
nenhum deles me revela
ai , não me jugues assim!

Minha cara verdadeira
fugiu às penas do corpo,
ficou isenta a vida

Toda minha faceirice
e minha vaidade toda
estão na sonora face;

Naquela que não foi vista
e que paira levitando,
em meio a um mundo de cegos.

Os meus retratos são vários
e neles não terás nunca
o meu rosto de poesia

Não olhes os meus retratos,
nem me suponhas em mim,


Eu Escrevi um Poema Triste

Mário Quintana

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza.
Mas das mudanças de tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao Velho tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto `a correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


Balada

Florbela Spanca

Amei-te muito, e eu creio que me quiseste
Também por um instante nesse dia
Em que tão docemente me disseste
Que amavas 'ma mulher que o não sabia.

Amei-te, muito muito, tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!...
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade!...

E a taça do amor, a ambrosia.
Da quimera bebi aquele dia.
A trago bons, profundos, a cantar...

O Meu sonho morreu...Que desgraçada!
.....................................................................
E como o rei de Thule na balada
Deitei também a minha taça ao mar.


Desdém

Florbela Spanca

Andas dum lado pro outro
Pela rua passeando;
Finges que não queres ver
Mas sempre me vais olhando.

É um olhar fugidio,
Olhar que dura um instante,
Mas deixa um rastro de estrelas
O doce olhar saltitante...

É esse rasto bendito.
Que atraiçoa o teu olhar,
Pois é tão leve e fugaz
Que eu nem o sinto passar!

Quem tem os olhos assim
E quer fingir o desdém,
Não pode nem um instante
Olhar os olhos d'alguem...

Por isso vai caminhando...
E se queres a muita gente
Demonstrar que me desprezas
Olha os meus olhos de frente!



Das Utopias e outras...

Mário Quintana

Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!



#&#&#&#&#&#&#&#&#&&#&#&#&#&##&

Fere de leve a frase...e esquece...nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

#&#&#&##&&##&&##&&#&##&#&#&#&

Dos Mundos

Deus criou este mundo.
O homem todavia,
Entrou a desconfiar...coagitabundo...
Deceto não gostou lá muito do que via
E foi inventando o outro mundo.

#&#&##&#&#&#&#&&##&#&#&#&&#&#&&#
..." Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo..."






Maior Tortura

Florbela Spanca

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!

Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que façam sorrir de ter nascido!

Sou como tu, um cardo desprezado
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!

Mas a minha Tortura inda é maior
Não ser poeta assim como tu és.
Para concretizar a minha dor!




Recordo Ainda

Mário Quintana

Recordo ainda...e nada me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixaram, sempre de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio uma vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite mortal!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após seguir,mas aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino...acreditai!
Que envelheceu, um dia , de repente!


Se Eu Fosse Um Padre

Mário Quintana

ao meu tio, padrinho e padre Ademário Benevides


Se eu fosse um padre, eu nos sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
-muito menos no Anjo Rebelado
E os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas;
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos,os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma...
-ainda que Deus se aparte-
um belo poema sempre leva a Deus!

Inscrição Para um Portão de Cemitério

Mário Quintana

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce-uma estrela,
Quando se morre- uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Versos Íntimos

Augusto dos Anjos

(Ao meu tio Antônio)

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão esta pantera-
Foi sua companheira inseparável !

Acostuma-te a lama que te espera!
O homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a vépera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!

Hino (para minha mãe Zenóbia )

Edgar Alan Poe

Santa Maria ! Volve o teu olhar tão belo,
de lá dos altos céus, do teu trono sagrado,
para a prece fervente e para o amor singelo
que te oferta, da terra, o filho do pecado.

Se é manhã, meio- dia, ou sombrio poente,
meu hino em teu louvor tens ouvido, Maria !
Sê, pois, comigo, ó Mãe de Deus, eternamente,
que no bem ou no mal, na dor ou na alegria!

No tempo que passou veloz, brilhante quando
nunca nuvem qualquer meu céu escureceu
temeste que me fosse a inconstância empolgando
e guiaste minha alma a ti, para o que é teu.

Hoje que o temporal do Destino ao Passado
e sobre o meu Presente espessar sombras lança,
fulgure ao menos meu Futuro; iluminado
por ti, pelo que é teu, na mais doce esperança.


Exausto

Adélia Prado

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raizes


Mater Dolorosa

Adélia Prado

(...)Uma vez fizemos piquenique,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com doçura
se for só isso o céu,
está perfeito.



A Filha da Antiga Lei

Adélia Prado

Deus não me dá sossego
É meu anguilhão
Morde meu calcanhar como serpente
faz-se verbo, carne, caco de vidro,
pedra contra a qual sangra a minha cabeça.
Eu não tenho descanso neste amor.
Eu não posso dormir sob a luz do Seu olho que me fixa.
Quero de novo o ventre de minha mãe,
sua mão espalmada contra o umbigo estufado me esconda de Deus!

A Idéia

Augusto dos Anjos

De onde ela vem ?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sofre as nebulosas
Cal de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?

Vemda psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, que e executa:

Vem do encéfalo absconso que a contringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tsíca, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra
Mas de repente,e quase morta esbarra
No molambo da língua paralítica!



Que este amor não me cegue e não me siga

Hilda Hilst

Q ue este amor não me segue , nem me siga
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que olhar não se perca nas tulipas.
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas.E de fragilidades tantas.
Eu me faça pequena.E diminuta e tenra
Como só sonhem ser aranhas e formigas.
Que amor só me veja de partida.


Há um não sei que...

Cassandra Rios

Há um não sei que de fascinante
no teu modo autoritário de falar
Há qualquer coisa provocante
na força penetrante do seu olhar.
Há uma promessa insinuante
no teu jeito de andar.
E em cada gesto uma suavidade cativante
uma ânsia escondida de quem sabe
[ provocar.
E por que mais me pertuba, francamente
eu queria agora te contar
mas é tão imenso e tão embriagante
que eu tenho medo de falar!
"Eu te desejo"


Se tu viesses

Florbela Spanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... Os teus abraços...
O teus beijos... a tua mão na minha..

Se tu visses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estedem para ti...

Inconstância

Florbela Spanca

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi `a Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava.
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual, a outro amor que vai surgindo
Que há de partir também...nem sei quando...


Ciranda

Graciete Salmon

As crianças, brincando na calçada,
cantam alegremente,
enquanto, olhar molhadoe voz tremente,
acompanho a toada;
"O anel que tu me deste..."
Só de amargura se reveste
minha emoção reminiscente.
Não revela saudade
dos tempos infantis,
mas o passado faz presente
na evocação daquele instante
-quase realidade
em que fui feliz
........................................................................
Havia um anel, lembro-me bem...
E havia um amor, que fim levou?
.........................................................................
Na calçada a ciranda vai e vem...
"era pouco e se acabou"
(Caminhos de Ontem)

Vida Obscura

Cruz e Souza

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
O mundo pra ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber dos altos saberes.
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém Te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu sempre te segui os passos
Sei que a cruz infernal prendeu-te os braços,
E o teu suspiro como foi profundo.

A Vida é uma Vitrina

Graciete Salmon

A vida é uma vitrina de tecidos
A gente por instantes,
fica de olhos perdidos,
na beleza das telas deslumbrantes.
Depois entra na loja e vai comprar
Caixeirinha gentil, a ilusão
vem vender ao balcão
e não se cansa de mostrar,
não se cansa
de exibir delicados,
rendilhados,
leves panos de sonho e de esperança
As mãos tocam de leve
na leveza das telas!
Todas são lindas! mas a que fascina
não está ali na grande confusão
das peças espalhadas no balcão
E a gente diz,
num ar feliz,
"Levo daquela rósea, muito fina,
exposta na vitrina."
Logo o Destino vem ( da loja é o dono)
e fala sombranceiro, com entono:
"É artigo de alta qualidade
o mais caro
de todos os tecidos.
São cortes especiais...
e estão vendidos!"
................................................................
E a gente vai comprar do áspero pano
que se encontra na seção do Desengano.
(O que ficou do sonho)

Aquele que se aproxima os que sempre estarão

Cecília Meireles

Aquele que se aproxima os que sempre estarão
distantes e desunidos
e separa os que pareciam
para sempre unidos e semelhantes
enxugar seus olhos
no alto da noite de mil direções
Encostada no teu peito
contemplando desfigurada
o negro curso da vida
como um dia,
do alto de uma fortaleza
vi a solidão de pedras milenares
que desciam pro suas arruinadas vertentes.

Dona Doida

Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso,com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui busvar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois.Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço,
Só melhoro quando chove.


O texto acima foi extraído do livro " Poesia Reunida 1991

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Livros

Viva O Povo Brasileiro ( João Ubaldo Ribeiro)
O livro é muito bom, gostei demaissssssssssssssssssssssssss!!!!
Quero ler mil vezes.Tudo de bom!!! A nossa cultura, os nossos defeitos, os nossos medos tão pueris, nossa imaginação.O mágico, o encantado e o real ...que mistura!!!! O real brutal.Seco, sem reparos.Brilhante!!!Como posso criar coragem para escrever em um país onde tem alguem como João Ubaldo Ribeiro, acho que nunca vou poder publicar nada, queria escrever assim...e vivo dizendo que não me movo por inveja, mas no caso bendita inveja.Leiam....Bjos.



Anseios

Florbela Spanca

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade,
meu coração, olha onde cais!

Deixa-te estar quitinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio , negra prisão!...
Aí . vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não s'tendas tuas asas para longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar ! ...

26/06/1916






Humildade

Florberla Spanca

Toda a terra que pisas, eu q'ria, ajoelhada,
Beijar terna e humilde em lânguido fervor;
Q'ria pousar fervente a boca apaixonada
Em cada passo teu, ó meu bendito amor!

De cada beijo meu havia de nascer
Uma sangrenta flor!Ébria de luz ardente!
No colo purpurino havia de trazer
Desfeito no perfume o misterioso Oriente!

Q'ria depois colher essas flores de sonho, estranhas, sensuais,
E lançar-te aos pés em perfumados molhos.

Bem paga ficaria, ó meu cruel amante!
Se, sobre elas, eu visse apenas um instante
Cair como um orvalho os teus divinos olhos!

12/07/1916

Cegueira Bendita

Florbela Spanca

Ando perdida nesses sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes,
E nem ao menos sei quem cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago.
E a minha alma cega ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar no lago
'Stendendo as asas brancas cor de sonho.

Ter dentro d'alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!...
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte.

24/04/1917

Iluminado

Ana Maria Feitosa

Ando em busca
do ponto de equilíbrio
entre o aqui e o agora

Perco os limites
do tempo
sigo lenta

Pensando como quem dorme
falando
como quem sonha
amando como quem pode

Vejo a vida
de olhos claros
translúcidos
coloridos
como vinho iluminado.

Auto Retrato

Ana Hatherly(1929)

Este que vês, de cores desprovido,
O meu retrato sem primores é
e dos falsos temores já despido
em sua luz oculta pôe a fé.

Do oculto sentido dolorido,
este que vês lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido
o estrago oculto pela mão da fé.

Oculto nele e nele convertido
do tempo ido escusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;

E do meu sonho transformado em acto
de engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.

Livro

O Trato dos Viventes. ( Luiz Felipe de Alencastro)
Formação do Brasil no Atlântico Sul Séculos XVI e XVII
O livro é surpreendente em todos os sentidos, esclarece pontos nebulosos da história, com objetividade mas sem ser superficial, a estrutura econômica que direciona toda a História da formação brasileira, é vinculada, ao que ocorria no continente africano.Não deixem de ler.Tudo o que li, antes sobre a história ou era a citação de fatos, ou era a teorização dos mesmos dentro do ponto de vista europeu, o que tornava os livros cansativos.Li alguns que marcaram pelo números de tristes relatos ligados a escravidão, mas o Trato dos Viventes, nos mostra o que movia tudo, e prende pela complexidade aliada a uma clareza única.Muito bom!!!

República dos Sonhos (Nélida Pinon)
Brilhante, trajetória de uma família espanhola, aqui no Brasil,
Não deixem de ler.Muito bom, mesmo.Bjos.

Leitura

Adélia Prado

Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras,
As macieiras tinham maçãs temporais, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora de seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá foa o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está o meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, adubo.
O que parece estático, espera.




A Invenção de um Modo

Adélia Prado

Entre paciência e a fama quero as duas,
pra envelhecer vergada de motivos.
Imito o andar das velhas de cadeiras duras
e me surpreendem, explico cheia de verdade:
tô ensaiando.Ninguém acredita.
e eu ganho uma hora de juventude.
Quiz fazer uma saia longa pra ficar em casa,
a menina disse: "Ora, isso é pras mulheres de São Paulo"
Fico entre montanhas,
entre guarda e vã,
entre branco e branco,
lentes pra proteger de reverberações.
Explicação é para o corpo morto,
de sua alma eu sei.
Estátua na Igreja e Praça
quero estremada as duas.
Por issso é que eu preciso e me apanham chorando
vendo televisão,
ou tirando sorte com quem vou casar
Porque tudo que invento, já foi dito.
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias, Tudo é Grande Sertão.





*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*!&*

Atávica

Adélia Prado

Minha mãe me dava o peito e eu escutava,
o ouvido colado à fonte dos seus suspiros:
"O meu Deus, meu Jesus, misericórdia."
Comia leite e culpa de estar alegre quando fico.
Se ficasse na roça ia ser carpideira, puxadeira de terço,
cantadeira, o que na vida é beleza sem esfuziamentos,
as tristezas maravilhosas.
Mas eu vim pra cidade fazer versos tão tristes
que eu gosto, meu Jesus misericórdia !
Por prazer da tristeza eu vivo alegre.







Uma Madrugada

Florbela Spanca

Uma madrugada tudo quieto.
impera a treva,a solidão escuto,
vislumbro vaus de crepe no horizonte.
da natureza amarfanhada em luto.

Um pássaro noturno, depenado,
pousa num galho já se despencando
de uma roseira que não dá rosas,
ou se elas nascem, nascem já murchando.
E o relógio branco da parede, as setas apontadas para mim
afirmam que esta miserárável noite
parou no tempo e nunca terá fim

Fumo

Florbela Spanca

Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti não há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem
ninho !

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos carinhosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outonos: choram...choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, o meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


@&@&@&@&@&@&@&@&@@&@&&@&@&@&@&@&&@&
Mário Quintana

"Razão de nada vale;
é um doutor distraído;
continua a passar receitas;
quando o doente já está perdido!"


Todas as Vidas

Cora Coralina

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo,
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum.Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo.

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso.
d'agua e sabão.
Rodinha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são caetano

Vive dentro de mim a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.Cozinha antiga
toda pretinha
Bem cacheada de picumã
Pedra pontuda
Cumbuca de coco.
Pisando alho e sal.

Vive dentro de mim,
a mulher do povo
Bem proletária .
Bem linguaruda
desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa,
de chinelinha
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira
Enxerto da terra,
Meio casmurra.
Trabalhadeira
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão
Bem parideira.
Seus doze filhos
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
A mulher da vida
Minha irmãnzinha
tão desprezada
tão murmurada
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de
mim:
Na minha vida
A vida mera das obscuras.


Artes do Nome

Adélia Prado

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o explêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás"
o "o", o "porém" e o "que ", essa incompreensível muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo filho é o Verbo.Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada pra ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão
puro susto e terror.

Neurolinguistica

Quando ele me disse
ô linda,
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice,
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez!

in Oráculos de Maio- Siciliano - Adélia Prado.
#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&&#&#&#&#&

Livro

* Um estudo da casa meia -pontense ( Adriana Mara Vaz de Oliveira ....Uma ponte para o mundo goiano do século XIX )
É um livro que estabelece as bases da urbanização regional e brasileira, com uma abordagem que intercala o contexto sócio-econômico, com a arquitetura , resultando em um modo de ver a história de forma diferente, mistura de técnica e um olhar para a formação do povo goiano. O Livro recebeu o Primeiro lugar do Concurso de Ensaios do Conselho Estadual de Cultura de Góias.
Não é um livro para se ler de uma única vez, é um estudo, antes de tudo. Espero que ela escreva novos livros.Parabéns!!
"Pilões lavrados a machado,
Cavados em cepos de aroeira.
Mão de pilão, aleijada, redonda sem dedos.

Mão pesada de bater , socar, esmoer, quebrar, pulverizar.
Mãos antigas, de menina moça, agarradas, em movimentos ritmados,
Altenados, batidas contínuas, compassadas.
(Engenho doméstico de pilar - Cora Coralina )

" Eram epsaços que começavam a ser mais utilizados para demonstrar o poder do proprietário do que para o usufruto dos moradores.Eram espaços formais que exigiam cerimônia no comportamento.Eram espaços que surgirm dentro da ótica da 'reeuropeização' de Freyre, porque implicavam uma vida social intensa.Nesta visão, eram espaços que se abriam às mulheres, que já assumiam um novo lugar na sociedade, com o recebimento de educação primária desde 1831.A abertura era ocasional, acontecendo nos momentos comemorativos ou algumas visitas.No dia-a-dia, o uso do espaço ainda era masculino, pois ao homem era destinada a função de ser o intermediário com o mudo externo.Mas, aos poucos, as mulheres também participam desses espaços, oferecendo chás e recebendo visitas de suas parentas e amigas, mesmo que em salas especiais.A existência de flores e objetos decorativos poderia indicar a presença feminina, mas percebe-se que essa decoração fazia parte da representação do poder masculino, pois era sinônimo de luxo, proporcionado pela capacidade de compra"
págian 195
Não deixem de ler!!! bjos.

O Amor no Eter

Adélia Prado

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos
mergulhados na água,
entrão e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto.
Atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
O amor sobre o natural
O corpo é leve como a alma.
Os minerais voam como borboletas
tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.





O Passado

Cora Coralina

O salão de frente recende a cravo.
Um grupo de gente moça se reúne ali.
"Clube Literário Goiano".
Rosa Godinho.
Luzia de Oliveira.

Leodegária de Jesus,
a presidência.

Nós, gente menor,
sentadas,convencidas, formais.
Respondendo à chamada.
Ouvindo atentas a leitura da ata.
Pedindo a palavra.
levantando idéias geniais.

Encerrada a sessão com seriedade
passávamos á tertúlia.
O velho hamônio, uma flauta, um bandolim.
Músicas antigas.Recitativos.
Declamavam-se monólogos.
Dialogávamos em rimas e risos.

O passado

Homens sem pressa, talvez cansados, descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência
Que importa a eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo o clamor, o adeus, o chamado?
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importa as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas?

E vão fugindo do sobrado,
aos poucos,
os quadros do passado



(1889 a 1985)

Velho Sobrado

Cora Coralina

Um montão disforme.Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadrinhadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Vidraças estilhaçadas.

Abandono.Silêncio.Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento.
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez doloroza das ruínas do sobrado
- um muro.

Fechado.Largado.O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado
bem que devia ser retocado
tão alto, tão nobre-senhorial.
O Sobrado dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parece hoje.Parece amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoandocom estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados- passantes e vizinhos.
Aos poucos, a "fortaleza" desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

PadreVicente José Vieira.
D.Irena Manso Serradourada.
D.Virgínia Vieira.
-grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Bejamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora,Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes saraus antigos.
Cortesia.Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
tão desusados...
O passado...

A escadaria de patamares
vai subindo...subindo...
Portas no alto.
À direita.À esquerda.
Se abrindo, familiares.

Salas.Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins,segurando.
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
Solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva.Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim-do-cabo.Resedá.
Um aroma esquecido.
- mangerona.

(Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas 1889 a 1985)

Poeminho do Contra

Mário Quintana

Todos esses, que aí estão
atravancando o emu caminho,
ele passarão...
eu passarinho.

%&%&%&%&%&%&%&%&%&&%&%&%&%&%&%&%&&%&

Da Observação

Mário Quintana

"Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem
Teu mais amável e sutil recreio"

#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&#&&&#&#&#&#&#&#&#

Eventos de 2008 (Oportunidade de apresentar minhas jóias)

  • Brazil Day Frederick - Backer Parker/ Frederick/ Maryland EUA 7 de Setembro
  • Salão Nacional do Turismo (pela Secretaria de Artesanato de Góias) 18 a 22 de Junho 2008 Parque Anhembi São Paulo
  • Casa Cor Góias ( Empório Sebrae) 16 a 22 de Maio Goiânia.

Profissão de Fé

Olavo Bilac

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o.E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme.
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima.
A frase; e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives saia da oficina
Sem um defeito:

[...]
Assim procedo.Minha pena
Segue esta norma
Por te servir,Deusa serena,
Serena Forma!









Presença

Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato eque, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sultilmente, no ar , a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também que seja como abrir uma janela
e repirar-te, azul e luminosa, no ar.
É presiso a saudade pára eu sentir
como sinto em mim a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra, é múltipla e imprevista
que nunca te pareces com teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.



















Conto 1


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Mulheres (pintura à óleo sobre tela ) Telas
3 comentários
26/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Conto 1
Conto 1 Uvas Mais DocesA casa era grande, bem maior que aparetava, isso; parentes e afins.Acolhia todo mundo, cabia de tudo.Com minha vó morava um tio;depois da separação ficou por ali.Alguém que tentava se reconstruir.Feio, muito feio.Me disseram que era bonito, funcionário público bem situado, depois...Eu, mãe de dezoito anos, morava perto o suficiente, para ficar mais lá do que no meu canto.Minha filha chegava comigo e ele ficava encantado quando ela aceitava o colo para que ele a levantasse para pegar as uvas de uma frágil parreira, impedida de crescer pelo pé de cacau, figura de destaque no quintal, que cercava minha vó de um pouco do verde de outros tempos que lhe faziam falta.O sucesso dele era com as crianças, mantinha um repertório inesgotável de estórias fracionadas, mistura de cultura nordestina, sua vida, seu misticismo e um toque de ironia sobre todos, os adultos.Criança , da família era chamada de filhotinhos de cachorros, murmurado no deboche pequeno , no sussurro...Corpo frágil, mirrado, dentes em completo abandono, cheio de manias, meio rabugento com os adultos, mas com as crianças, se agachava de cócoras, jeito em que mais ficava, desgradando a estética estabelecida por ali; baianos orgulhosos de sua cultura, de sua história, de sua dignidade mesmo na pobreza.Ela chegava levantava os braços e ele o escolhido entre outros tios avós, saía com ela a recolher as uvas.A cena se repetia todos os dias todas as tardes... as uvas foram acabando azedas e miúdas como ele.O pé de pinha , ata, estava carregado, separou duas e guardou, comeram uma.Ele ficou remungando reclamando entre os dentes numa pequena fúria que me recordo, era até engraçada.Era para a minha filha.Acabaram-se a uvas, nehuma.Um dia e outro os dois percorreram e nada encontraram, as atas não fizeram sucesso com ela, já determinada a ser o que é hoje, descia do colo e seguia para a casa que para ela tinha cantinhos especiais.Ele tentava brincar de outra forma , ela nem ligava , e já ia em direção a uma tia avó.Todos os dias quando eu chegava ele vinha oferecendo o colo, e ela recusava e saia de perto, parece que percebendo, só então a figura feia que era esse tio.recolhia os bracinhos fazia cara feia , dizia não bem firme e seguia sua trajetória para dentro da casa.Eu que o respeitava muito, o achava uma figura interesante, tentava justificar; ele parecia não ouvir, eu já estava adulta , tinha bandiado pros adultos, não ia acontecer dele me mostrar o catecismo de São Cipriano, escondido dos olhos dos católicos de plantão ou do irmão que é padre.Não tinha mais acesso a sua coleção de livrinhos do folclore nordestino, repentes em quadrinhos , que ainda hoje eu amo, e que graças a ele me marcaram muito.Queria ainda ouvir ele me contar quanto doze capetinhas, figurinhas até parecidas " com os filhotinhos de cachorro "o seguiram de noite, jurava que era verdade, era o máximo. A figura dos capetinhas nunca me sairam da memória, e toda vez que vejo nos encontros da família um punhado de crianças, já não tão escurinhas como eu e ele, com as novas misturas, brancos como anjos, fico rindo por dentro e lembrando ...dos doze...Minhas desculpas não valiam para ele e a pequena já ficava enfezada quando o tio tão estranho a cercava no portão.O mês correu todo assim, algumas tentativas com pinha, outrascom banana, mais nada, a amizade terminara com a o final da safra.Ele passava o dia acocorado debaixo do pé de cacau, e arredores, nos cantos, vocênem notava, ficava fazendo reza braba, segundo alguns irmãos, no final do dia, se arrumava todo, muito alinhado, colocava uma carteira dessas bem grandes debaixo do braço, e num passo miúdo mas de muita dignidade, ia para o trabalho de vigia noturno em um departamanto qualquer, de onde só retornava no dia seguinte.Ganhava salário.Eu e minha filha entramos pelo portão, e ele veio radiante, bastava ver o brilho dos olhos, pegou ela no colo com a segurança, renovada e sem ligar para protestos,deu os primeiros passos, já debaixo da pequena parreira e ela e eu maravilhadas com os grande caixos de uvas itália, aqui e ali poucamente equilibrados, mais pesados, que os singelos galhos de pareira tão pobre cercada de cimento.Eram uvas verdes, amarradas com delicados fios improvizados.ela muito feliz tentava seguram nas mãozinha um cacho, ele desceu ela no chão e pegou outros e depois ficou de cócoras e na frente dela ia entregando uma a uma.Me senti intrusa e fui ficar onde tava a minha tia mais querida, num canto do alpendre, entre a sala e a cozinha vendo de longe.
rascunho
26/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Natal...
rascunho
23/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente com Ametista em Prata 950 Pingente

20/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente prata madeira (Vinhático) e Dentrita Pingente

18/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Anel com Onix em Prata 950 Anel

18/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Anel em Ônix e Prata Anel

18/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Anel em Ônix e Prata Anel

18/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Anel com Onix em Prata 950 Anel

18/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente com Amazonita em prata 950 Pingente

10/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Livros
rascunho
08/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente com Onix em Prata 950 Pingente

05/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente com ametista em Prata 950 Pingente

05/12/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente (turmalina rosa, quartzo rosa, ametista ,... Pingente
1 comentário
27/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente com Onix em Prata 950 Pingente

26/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Jóias que eu gosto...

26/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Bracelete com Soldalita em Prata 950 Braceletes e pulseiras
1 comentário
13/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Gargantilha com Dentrita em Prata 950 ( fosca ) Gargantilhas

13/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente Flor Prata 950 Pingente

13/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Anel Ramos Anel

07/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Pingente em onix Pingente

07/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Gargantilha em madeira Gargantilhas

01/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Tiara e pulseira folhas Tiara e pulseira

01/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Gargantilha com quartzo fume Gargantilhas

01/11/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Bracelete em prata e calcedonia Braceletes e pulseiras

28/10/08
de Patricia Fontenelle Joias Artesanais
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Publicação selecionada

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